Gógol na Garganta ou a Garganta de Gógol
O teatro é o mundo e o mundo é o teatro. Há muito que se diz que o teatro é o microcosmo da sociedade. De certa forma, uma companhia de teatro pode representar esse microcosmo. Seja naquilo que há de positivo, mas também naquilo que podemos detectar como as feridas da sociedade, da dificuldade da convivência em grupo, do entender a coletividade. Sabemos ouvir o outro? Queremos ouvir o outro? Sabemos verificar a existência das diferenças? Sabemos conviver com essas diferenças? Até onde vai a nossa paciência e a nossa intolerância?
Não é fácil responder a essas questões, seja no plano social ou no teatral. Quando se instaura uma crise os ânimos se alteram e nem sempre prevalece a razão. Levados pelos impulsos tomamos atitudes que mais tarde podemos nos arrepender ou que nos levam a impaciência e a não tolerância. E é isso que presenciamos em “Gógol na Garganta ou a Garganta de Gógol” – quarta montagem da Epifania Companhia de Teatro.
Num teatro. As cortinas fechadas. Toca o segundo sinal; em seguida ouvem-se barulhos na coxia: uma cadeira que cai, um grito. A companhia teatral está em crise. Será que a peça será apresentada?
Argumentos e intrigas dos componentes da companhia se revelam para além das coxias. Nas tentativas de justificar essa atitude, os atores vãos aos poucos expondo as fissuras e os embates que os anos de convivências geraram. É o momento de uma discussão de relação, como na nossa vida cotidiana. Momento em que mágoas e ressentimentos vêm à tona. Onde nos revelamos naquilo que temos de mais desprezível e falamos o que não devíamos; mas então, tudo já foi dito e não podemos voltar atrás. Mas da crise, do caos pode surgir uma solução, um encaminhamento. E, então, no final do encontro da companhia com os espectadores, algo ficou. Ficou a possibilidade de um recomeço; agora, com mais consciência e disponibilidade de entendimento.
Ficha Técnica
Adaptação e Direção: Samir Signeu
Elenco: Adriano Dlugosz, Amanda Leones, Andressa Bodê, Luana Costa e Simone Carvalho